Entre 1946 e 1990, uma prática hoje considerada impensável foi adotada por diversos países europeus: o despejo de resíduos radioativos no fundo do mar. Estima-se que mais de 200 mil tambores, contendo materiais de laboratório, luvas e amostras contaminadas, foram lançados nas profundezas do Atlântico Nordeste — a mais de 4 mil metros de profundidade. Agora, a França se prepara para avaliar os danos causados por esse legado tóxico e, possivelmente, iniciar sua recuperação.
Um espaço de resgate, mas também estudo
Para isso, será usado o submarino robótico UlyX, capaz de operar a 6.000 metros de profundidade. Na primeira fase, o robô vai sobrevoar os barris a 70 metros de altura, utilizando sonar e câmeras para capturar imagens e mapear o terreno. Amostras de água, sedimento e vida marinha também serão coletadas com redes e potes para analisar os possíveis impactos dos resíduos.
Já a segunda fase, prevista para 2026, contará com robôs como o Victor ou o Nautile, que irão se aproximar dos tambores e coletar amostras diretamente ao redor deles. O objetivo é avaliar a viabilidade de uma futura operação de remoção — uma tarefa monumental que exigiria planejamento, recursos e protocolos de segurança rigorosos.
Embora muitos dos isótopos usados nos barris tenham meias-vidas curtas, como o césio-134, especialistas alertam que os efeitos cumulativos da exposição contínua à radiação e sua interação com os ecossistemas marinhos ainda não são totalmente compreendidos.
Proibida desde 1993 pela Convenção de Londres, a prática de despejar lixo radioativo no oceano permanece como um alerta sobre os riscos do manejo irresponsável de resíduos nucleares. A missão francesa, além de tentar corrigir erros do passado, abre uma rara janela científica para estudar o impacto de décadas de contaminação silenciosa nas profundezas do Atlântico.
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